segunda-feira, 16 de junho de 2008

SANTOS OU PECADORES

E de repente – talvez não tão de repente, as coisas nunca acontecem repentinamente como pensamos – ela se deu conta de que queria mais. Mais do que uma casa pra cuidar, mais do que filhos, mais do que um trabalho que pagasse bem, mais do que uma carteira aberta. Ela percebeu que podia mais, que merecia mais...
Necessitava de tempo para ser simplesmente mulher, para estar consigo mesma, para sentir a própria pele num banho tranqüilo, sem pressa para preparar o jantar ou buscar os filhos na escola.
Percebeu que a vida possuía muito mais incoerências do que pensamos na juventude e passou a julgar menos e ter mais compreensão a oferecer.
Começou a acreditar firmemente que merecia aprender mais, pelo simples prazer de aprender, a desejar ardentemente uma carreira que lhe preenchesse a alma e o tempo com o prazer de algum ofício que amasse, que em vez de uma carteira aberta, queria ao seu lado alguém que pudesse abrir-lhe o coração, que estivesse ali para ouvir e principalmente para opinar e para responder, afinal, não dizem que “até as paredes têm ouvidos”?
Crescera ouvindo as mulheres da família e da vizinhança elogiando os maridos que eram fiéis, que tinham bons empregos, que não batiam nas mulheres... Mas era só isso? E ela e todas as outras mulheres que tinham que ser boas mães, boas esposas, boas donas de casa e aceitarem a falta de elogio, a falta de gratidão, a falta de atenção?
Não, de repente, percebera que queria mais, mais do que um santo marido: fiel, bem empregado, que não bebesse ou fumasse. E descobriu que muitas vezes, pode-se ser infinitamente mais feliz ao lado de pecadores que tenham ouvidos para ouvir...

Ariadne

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