segunda-feira, 16 de junho de 2008

PARADA NO SEBO MAIS PRÓXIMO

Para os dias em que o frio nos atinge o coração, existe sempre um porto seguro na ilha mais próxima. Bons livros são bálsamo para corações partidos. O que pode ser melhor do que as páginas da ficção quando a vida torna-se, um tanto, pesada? Às vezes por nada em especial e por tudo o que nos revisita, a vida torna-se um pouco exaustiva, se é que a exaustão pode derramar-se sobre nós em pequenas doses...
Mas a questão é que um bom amigo: novo ou velho, pesado ou sintético, intelectual ou descontraído, sempre disposto a uma conversa íntima sob o edredom, e que de preferência possa ser carregado na bolsa ou na mochila, nos permite o descanso de uma realidade morna e sem conflito.
Pergunta-se hoje, em meio ao relampejar das tecnologias, o que será de seu futuro. Hoje são tantas as distrações e formas de evadir-se...
Ninguém sai ileso do contato com a arte, porém, a arte literária depende de nós leitores, para realizar-se. No momento em que abrimos um livro, os seres que nele habitam, até então inanimados, ganham vida através do sopro que nós damos às suas palavras, fazem-se verbos assumindo nossa imagem e semelhança, sua existência depende de nós.
Avalon precisa da nossa crença na Grande Deusa tanto quanto Sininho precisa da fé das crianças para permanecer viva. E enquanto lemos, dividimos com o escritor a criação de sua obra, o qual nos presenteia com uma parcela do seu crédito. Carregamos conosco as personagens que nos tocam, que realizam aquilo que, por força do acaso ou das convenções, não nos encorajamos a tornar real, acrescentando-nos o que nos falta, seja isto companhia, fuga ou ambos.
Por isso, um vazio assume o lugar das páginas cuja leitura encerramos, e nos despedimos da companhia daqueles que até então povoaram nosso imaginário e o nosso cotidiano. Só nos resta buscar, agora, abrigo e pronto socorro no sebo mais próximo...

Ariadne

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