segunda-feira, 16 de junho de 2008

CARTA SOLÚVEL

Desço da lotação e sinto o vento morno no rosto. Penso no dia de trabalho: algumas decepções, alguns incidentes completamente previsíveis, mas também algumas agradáveis surpresas...
De repente minha mente silencia, e quando tudo está calmo é você que a assalta de inesperado, é como se no cessar de tudo, apenas você permanecesse...
À medida que desço a rua, redijo em pensamento palavras pra você. Inicio com um “Olá meu querido, sinto saudades...” te conto meu dia, suprimo alguns detalhes e vírgulas, e prossigo em minha saudade.
Olho para o céu, num desses suspiros que ocultam lembranças, e vejo as três Marias. Surpreendo-me. Há muito que não pensava nelas, acho até que desde o início de minha adolescência. Talvez porque somente agora me sentisse em paz para olhar o céu e pensar nelas, como quem não tem mais nada em que pensar. Pois nada é mais avesso à adolescência do que a tranqüilidade e embora ainda seja jovem e me sinta como tal, creio que algumas turbulências já passaram.
Prossigo em minha epístola mental e transmuto algumas palavras em sorrisos, sorrisos que os estranhos não compreendem, e nem poderiam, não é mesmo?
Interrompo minha deliciosa correspondência para entrar em casa, infelizmente ao notar já me via de frente para o portão. Os gatos me detêm pelas pernas, enroscando-se em meus tornozelos por amor, por saudade, por ração e leite...
Após satisfazê-los com carinho e suprimentos, decido documentar minhas palavras a você para não perdê-las, mas sou tentada pela idéia de um banho refrescante e um bom café solúvel. Coloco a água no fogo enquanto entro no banho.
Pouco mais tarde, sentada no sofá, caderno numa das mãos, um lápis na outra e uma xícara de café, pela metade, misteriosamente, adormeço...

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