segunda-feira, 16 de junho de 2008

DIAS NUBLADOS

Hoje é mais um daqueles dias em que acredito na felicidade. No entanto, nenhum fato novo, nenhuma nova pista de onde encontrá-la. Na verdade o dia até mesmo nublado está. Apesar disso, algo trazido pelo entardecer espalha pelo ar fluidos de esperança, embora não possa enxergar sua cor ou sequer vislumbrar sua forma. Mas os dias transcorrem dessa maneira: com tonalidades e aromas diversos, trazendo uma nova surpresa a cada instante, boa? Talvez sim.
Estamos sempre desejando o absoluto. Um dia absolutamente feliz, uma noite absolutamente tranqüila, sempre a espera de conhecer alguém absolutamente maravilhoso. Mas a vida não é absoluta, não vivemos o romance de folhetim em que facilmente se determina quem é o vilão e o mocinho em sua absoluta bondade e perfeição.
Uma vez que nada é completamente mau ou completamente bom, perdoem-me o clichê: “o copo de Coca-Cola pode estar tanto meio cheio, quanto meio vazio”. Não precisamos sofrer por não alcançar a felicidade completa nem por não nos sentirmos completos. Podemos sobreviver a um dia sem sorrisos ou palavras gentis, já que tão necessários quanto estes, são as asperezas e tortuosidades do caminho.
Viciados em felicidade e beleza, deixamos de enxergar as lições contidas no lado julgado feio e triste da vida, ou mesmo nos dias comuns, que nada trazem de especialmente bom ou mau. Rubem Alves em uma de suas crônicas divide conosco o ensinamento de que a tristeza é fundamental ao exercício da compaixão, pois se não a conhecermos, como nos compadecer da tristeza do outro? Uma vez que a misericórdia consiste em sentir no coração a miséria do outro, como fazê-lo sem viver profundamente os dias nublados?
Sendo assim, talvez haja um equívoco no desejo de “dias melhores pra sempre”. Talvez os dias melhores sejam aqueles que nos tragam novas lições. Os dias em que o sol desponta, os dias em que o frio nos corta a garganta e, sobretudo, nos dias nublados, em que não sabemos muito bem o que devemos sentir.

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