segunda-feira, 16 de junho de 2008

DESORDEM E PROGRESSO

Para falar em progresso, é caminho obrigatório entender o que é ética, pois ética e progresso estão fortemente vinculados um ao outro. Ética é a reflexão sobre o agir. E o conhecimento da existência do outro antecede essa reflexão que procura antever as conseqüências que nossos atos terão sobre o meio em que vivemos. O outro nesse caso não deve estar exclusivamente vinculado à esfera humana, e sim se estender ao meio, que constitui o ambiente natural e cultural em que habitamos. Ao ignorar a existência do outro, estaremos deixando de refletir sobre nosso próprio futuro. Por isso, a ética demanda visão global que permite enxergar a falta de limites concretos entre o meio e o indivíduo, e perceber a real incapacidade de fragmentar a realidade. Todas as coisas estão ligadas umas às outras, agindo e reagindo umas sobre as outras.
No entanto, se fizermos um rápido retrocesso histórico, facilmente, averiguaremos que muitos foram os episódios desastrosos que resultaram da falta de ética, portanto, da ausência de consideração ao outro, em oposição à presença de uma visão deficiente da realidade, que a subdividiu num verdadeiro mosaico desconexo. Poderíamos desse modo afirmar que a ausência de ética serviria de empecilho para o progresso? De qual progresso estaríamos falando?
O progresso é um substantivo que requer um complemento. Existe o bom progresso, que leva em conta os valores éticos e a igualdade de crescimento, mas não se pode deixar de citar o mau progresso, que ignora a presença do outro, devorando o meio sobre o qual empunha sua bandeira.
Defenderei aqui o bom progresso. Talvez o mais autêntico, afinal, será que realmente poderíamos chamar de progresso um avanço que não alcança a humanidade como um todo? Que se dá de maneira desigual, segregando ao invés de incluir? Talvez seja deveras pretensioso tentar empreender busca a tais respostas, já que as raízes destas estão fincadas no âmago da desigualdade em seu sentido mais amplo: desigualdade de oportunidades; de direito à dignidade, à educação, e, sobretudo, desigualdade de direito à vida. A humanidade não tem provado com freqüência os benefícios do bom progresso, talvez sequer o tenha alcançado, em sua totalidade, em algum momento.
As deturpações de sentido em que o termo progresso se viu envolvido ao longo dos séculos, usado para justificar a sede atroz e inescrupulosa de acúmulo de riquezas, hoje, torna necessária sua clarificação, quanto ao tipo de progresso que a sobrevivência humana preconiza. É preciso esclarecer, no entanto, que toda essa nebulosidade quanto ao termo, deve-se a fatores sociais e jamais etimológicos.
Pesquisas científicas têm nos revelado o que atualmente estamos todos cansados de saber, que os danos causados ao meio ambiente e a banalização da moral podem conduzir-nos à nossa própria extinção, e pouco preocupados com o futuro de nossos descendentes, seguimos nossas vidas, ignorando mais uma vez a destruição do outro, em prol de conforto e prazer quase tão efêmeros quanto o atual sentido de nossas existências.
Mas a esperança no progresso ético deve sobreviver a todas as catástrofes culturais e naturais. E se a desordem prenuncia o progresso, então o caos do qual a humanidade se aproxima, a aproximará também de um enorme espelho, já que a ação do homem reflete-se no meio e o meio volta sua imagem para o homem. E o conhecimento de uma verdade que não queremos ver, nos conduzirá à crise fundamental ao crescimento, e crescer é dar passos adiante, e dar passos adiante é progredir.

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