segunda-feira, 16 de junho de 2008

O CHAMADO DA LUA

Em seu apartamento de luxo muito bem localizado na grande cidade, Mimi se espreguiçava deliciosamente sobre sua macia almofada de algodão egípcio.
A lua se erguia tentadora ao despontar da noite. Puxa! Como mexia com ela aquela lua! Grande, amarela e luminosa. Ah! Se não fossem os anos e as vidas que começavam a pesar-lhe sobre os lombos...
Mas fora uma escolha sua, não arriscar uma vida de conforto e afeto para viver a liberdade felina em toda a sua plenitude, a explorar os telhados do subúrbio. No entanto, quando seus irmãos de ralé saíam à noite, atendendo ao chamado da lua, livres e sem senhor, ela sentia em seu pequeno coração as palpitações da dúvida. Como teria sido conhecer a liberdade das ruas a explorar lixeiras nas calçadas da vida errante?
Decide experimentar! Embora não fosse mais uma jovenzinha, precisava conhecer o sabor da liberdade antes de entregar-se à decrepitude da velhice. Seria uma crise de meia idade?
Mimi uma vez mais se espreguiça e avança corajosamente até a janela. Lá de cima, do pára-peito, pode ver o que se desenrola embaixo: as formiguinhas que caminham apressadas, entrando e saindo de seus carrinhos de brinquedo, carregando compras ou levando seus pulguentos companheiros para um passeio. Parecia bem alto, mas acreditava no poderoso amortecimento do famoso pulo do gato. Ou será que a pouca vivência lhe turvava a noção de perigo?
Ficou ainda algum tempo entre o salto para a liberdade, o salto à morte e o recuar. Olha a lua uma vez mais, ouve os miados excitados de seus companheiros de instinto e por fim... Recua.
Os riscos eram muito altos, precisava pôr tudo na balança e pensar com racionalidade.
Acha melhor não refletir mais sobre o peso de suas decisões. Estira-se em sua macia almofada de algodão egípcio e não sem certo pesar, rende-se à sua vidinha segura, regada a leite morno e bons filés de peixe.

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