segunda-feira, 16 de junho de 2008

INVASOR INESPERADO

Conforme me aprofundava na escuridão da rua, ficava cada vez mais apreensivo com a situação em que eu mesmo havia me colocado. Qualquer ruído já me sobressaltava. O silêncio ecoava em minha mente e meus passos retiniam ao longo da rua de aparência fantasmagórica.
Aos poucos, o caminho se tornou mais e mais familiar: as mesmas casas e o gato gordo da casa da esquina levava para dentro do portão um farto jantar que permanecia imóvel, ainda vivo, porém mortificado por seu predador.
Pouco tempo depois reconheci os números azuis que numeravam a casa amarela. O mais discretamente possível, tateando o escuro, encontrei o trinco que firmava o portão ao chão, soltei-o, e então bastou desencaixar o portão do trinco da fechadura e pronto: estava dentro. Em seguida voltei a encaixar os trincos e o portão estava tão fragilmente trancado quanto antes. Sempre soubera que esses portões não eram seguros!
Uma vez ultrapassada a garagem, logo estava de frente para a porta de entrada. Não me detive de frente para ela, por muito tempo, não tinha experiência com arrombamentos. Tentei as janelas. Dei algumas batidas testando suas travas, e me preocupei novamente com a vizinhança. Sabia que morava gente na casa ao lado, não era uma das muitas ocupadas apenas na temporada. Desisti da janela da sala e me dirigi à janela do quarto. Puxei a parte de tela para mosquitos e bastou empurrar com os dedos, que passavam pelo vão, as travas de madeira que escoravam a parte de vidro, e pronto. Mais uma vez fora mais fácil do que eu pensara, e do que gostaria também.
Devido à minha baixa estatura, não alcançaria a janela sem dificuldade, se não fosse uma cadeira desmontável convenientemente escorada na parede.
Finalmente conseguira entrar na casa. Embora tudo houvesse se passado em poucos minutos, preocupado em não despertar a atenção de ninguém e apreensivo quanto ao sucesso de minha empreitada, o transcorrer daqueles minutos corresponderam a horas de meu tempo psicológico.
Entre uivos desastrosos e latidos que mais transpareciam medo do que valentia, iluminada pela luz do corredor que permanecera acesa, a cadelinha se aproximou do quarto a passos temerosos. Ao me reconhecer, abanou feliz seu rabinho.
Preciso de uma vez por todas me livrar desse infame hábito de perder as chaves de casa!

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