segunda-feira, 16 de junho de 2008

O AMOR É MUDO

O ser humano está fadado a um triste legado: o de possuir a capacidade de se comunicar com outro, sem quase nunca conceber de fato um ato comunicativo. Quantas guerras seriam evitadas senão fossem os mal entendidos que as principiam desde o início dos tempos? Não estamos sós, no entanto, somos ilhas sem conseguir compreender jamais o que se passa no interior do outro, sem compreender sequer o que se passa no interior de nós mesmos. Qual castigo poderia ser maior do que o de possuir dádivas que não trazem frutos? O homem permanece incompleto, possuidor do antídoto de todas as doenças que o atormentam, que lhe é tão intrínseco, que não pode encontrá-lo, tal qual Prometeu acorrentado, que se recompõe todos os dias simplesmente para voltar a ser dilacerado.
E o amor? O amor é a sensação, factual ou não, de que a comunicação entre dois seres finalmente completou-se. Mais do que isso: é a transcendência da comunicação. As palavras tornam-se obsoletas diante do encontro entre almas. Finalmente não precisamos mais justificar nossos atos, quem somos ou por quê. Livramo-nos de uma vez por todas do peso morto das palavras que jamais completam sua missão. Qualquer justificativa torna-se desnecessária diante da (in)comunicabilidade do amor.

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