quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O TEMPO INVENTADO

Abrimos a porta, após um dia e uma noite fora de casa, e nossa cadelinha vem desesperada ao nosso encontro. Sua água e comida estão intocadas. Provavelmente, de saudades, não comeu nem bebeu nada.
O tempo foi “inventado” por nós. Talvez seja por isso que tanto faz para o nosso cãozinho, se vamos à padaria ou se viajamos por uma semana, a festinha que ao voltarmos é a mesma, pois para ele tudo o que existe é o momento que vive: ausência e saudade.
No entanto nós, raramente estamos onde estamos, ou vivemos o momento que vivemos. Se estamos infelizes, nos angustiamos desejando que o momento passe, transmitindo ao futuro o triunfo de uma felicidade incerta; se estamos felizes, temos medo do futuro que pode nos afastar dessa felicidade. Existem ainda aqueles que não saem do passado, remoendo o que foi bom ou, pior ainda, o que foi mau.
Somente nós sabemos que o tempo passa, que o dia chegará ao final, e que o último dia virá, inevitavelmente. Todo o resto da natureza desconhece a possibilidade da morte, do transcorrer do tempo que consome o presente, a vida.
Essa coisa de tempo é mesmo meio louca, ou melhor, meio enlouquecedora: o presente é passado, o passado é memória, e o futuro não existe, então onde estamos nós? É, parece que o tempo é mesmo uma invenção maluca, inspirada por nossa sede de controle. Podemos contar o tempo, marcá-lo, nomeá-lo, mas não podemos controlá-lo, retê-lo ou sequer prevê-lo. Como estou certa de que alguém já disse antes, “o tempo é ilusão”.
Sendo assim, provavelmente a minha cadelinha, que apenas sente, vive numa realidade menos ilusória do que a minha. Talvez os sentidos, as sensações e os sentimentos nos enganem muito menos do que pensamos e a nossa mente muito mais do que imaginamos.

Um comentário:

Beatriz Vieira disse...

olá Aline

Vi seu blog no Literatura Livre e também sou estudante de Letras.
Adorei seu blog.
Convido a visitar o meu blog:
http://cartasaoavesso.blogspot.com/